quinta-feira, 26 de abril de 2012

ENSINAR, CONSTRUIR E PROMOVER CULTURA DENTRO DA SALA DE AULA INCLUSIVA.

Esse texto é uma adaptação de um editorial que foi publicado pelo jornal Gazeta dos Municípios na edição de nº 307/2012, pela mesma autora.

gora com a realidade da inclusão, muito se tem falado sobre os problemas da Educação Inclusiva no nosso país, também sobre as dificuldades e ansiedades de professores assim como colegas de classe com os alunos especiais (Surdos), que não aprendem o esperado pelo docente e da barreira de aprender uma nova língua para comunicação pelos colegas de sala (ouvintes), que não tem conhecimento de LIBRAS e muito menos cultura surda. Ensinar é garantir que os conhecimentos possam se aplicar no cotidiano em sentido real e amplo para todos os estudantes, independentes de sua origem, cultura ou necessidade especial, esse conhecimento vai promover a mudança na sua vida dentro e fora da sala de aula.
   No meu dia a dia como docente Surda, tenho visto muitos bons exemplos de quem faz isso em diferentes segmentos e condições de trabalho, inspirando outros a ver o “diferente”, como motivação para o aprendizado, buscando conhecer uma nova língua (LIBRAS) e uma nova cultura, alargando o conhecimento, rompendo as barreiras do preconceito e da comunicação.
  Isso me faz lembrar a comparação que o prof. Carlos de Menezes fez da educação e cultura com a arte de cozinhar, para ele tem em comum a habilidade de conciliar três ingredientes essenciais: saberes, sabores e valores. Os saberes são os conteúdos em si, não importam a série e a disciplina. Os sabores são as formas de despertar o gosto pelo conhecimento, envolvendo alunos em atividades significativas. Os valores produto desse processo, é a própria cultura que se constrói em cada turma.
  Mais do que selecionar assuntos, e incluir alunos de diferentes culturas e necessidades (surdos e ouvintes) é preciso motivar quem vai aprender, preparar os alunos especiais e comuns, nas escolas regulares e faculdades alertando para dificuldades sem com isso frustrá-los, garantindo a todos o aprendizado.
  Nessa vertente foi criado em conjunto, um projeto no município baiano, que visa facilitar aos alunos surdos local, o ensino aprendizado de algumas disciplinas na Libras e português, com uma proposta bilíngue, são filmadas aulas, todas elaboradas em Língua de Sinais e também contando com sua escrita em Língua Portuguesa, para com isso os Surdos tenham acesso as duas línguas e o significado das palavras apresentadas junto com seus sinais.
  É sabido que ainda não se tem sinais para todo conteúdo exposto, em sala de aula, nas diversas disciplinas, foi por observar a dificuldade que os discentes Surdos e seus intérpretes tinham em criar sinais para alguns assuntos apresentados, por desconhecer o significado e explicação dos mesmos, o constante uso de datilologia para palavras que não tinham registro em sinais, nas aulas e os sinais criados se diferenciarem, comparando o mesmo conteúdo de uma escola para outra, é que senti a necessidade de cadastrar e registrar aulas com sinais novos em vídeo e  também na escrita surda SIGNWRITING.
  O resultado é o contato de surdos, que estão sendo alfabetizados no signwriting, ter acesso a escrita na sua língua e com isso facilitar o processo de alfabetismo na segunda língua que é a língua portuguesa, não só conhecendo a escrita de forma correta como o significado de cada palavra, isso cria uma ponte facilitadora para a aquisição das duas línguas, na forma escrita e o entendimento com as explicações sinalizadas nas vídeo aulas, também auxiliou os profissionais de ensino e interpretação, por poder agora, apresentar aos discentes Surdos o conteúdo, de modo mais uniforme.
  Vale ressaltar que essa metodologia de trabalho bilíngue, não substitui a presença do professor regente e do intérprete na sala de aula inclusiva, é apenas um veículo de auxilio, na escolarização e alfabetização do alunos Surdo, estendendo seu conhecimento de forma mais clara e eficiente.
   E com isso não só ganham os educandos, mas educadores também, lembre-se de saber misturar ingredientes certos para uma boa aula, isso é educação inclusiva, desafios e conquistas fazem parte do ofício.
  Nesse sentido, a curiosidade, a inquietação intelectual e a busca do conhecimento contínuo passaram a ser as características do aluno que reflete o professor que teve, o aluno, independente de ser especial ou não, lembre-se que “especial” é apenas um rótulo, tem as mesmas dúvidas e ansiedades e buscam um lugar ao sol, todos precisam ser estimulados. 
   Bom e os professores preocupados com a inclusão do início desse texto? Ah! Eles vão precisar de uma aula de culinária! Piadinhas a parte vão precisar despertar o pesquisador, o construtor e promovedor de cultura e conhecimento que tem dentro dele, só assim suas inquietações e temores desaparecerão, só é possível ensinar, construir e promover cultura quando dentro da sala de aula harmonizam-se o talento de se educar com responsabilidade e compromisso social com habilidades diferentes, de desenvolver esse aprendizado refletindo no dia a dia dentro e fora do ambiente escolar ou acadêmico como queira.
  Seja um talento no seu meio, uma boa educação sem barreiras é decisiva para separar a indiferença e apatia pela cultura do outro com a tolerância, substituir a passividade pelo interesse de aprender e aceitar o novo, o diferente, pelo desejo de conhecer e aprender com o outro e no lugar da mera presença em sala o bom convívio, nos ambientes educacionais que compreendem e aplicam isso os seus formandos tendem a refletir na Sociedade lá fora e no ambiente de trabalho a excelente formação cultural e educacional que tiveram.

Alessandra Sandes Lopes, Pedagoga e Profª Surda, Esp. Em LIBRAS e Ed. Especial no Município de Alagoinhas- BA, Profª de LIBRAS da Faculdade Santíssimo Sacramento e UATI-UNEB campus II.


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